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ASPECTO LITERÁRIO

Notícias de Além-túmulo é um poema narrativo, cuja temática é o suicídio. A realidade da vida após a morte é apresentada ao leitor, na segunda pessoa, como em uma carta. Sem subterfúgios, o autor afirma que os fatos que apresenta ao leitor foram revelados por espíritos por via mediúnica.

Notícias de além-túmulo - Capa 03.jpg
Pela estrutura e pelo comprimento da obra, aproximar-se do estilo épico. No entanto não apresenta a temática usual dos poemas épicos, que costumam abordar um fato heroico, ou contam com uma personagem central cuja história é narrada no decorrer do texto.
​O poema é dividido em 29 capítulos e constituído por 192 estrofes de 8 versos, todos decassílabos heroicos (acentuação tônica na sexta e décima sílabas poéticas). Ao todo são 1536 versos.
"Notícias de além-túmulo" é também o um dos mais longos poemas escritos por poeta brasileiro, superando "O Navio Negreiro", de Castro Alves (com 34 estrofes e 240 versos) e "I Juca Pirama", de Gonçalves Dias (com 487 versos) e o mais longo poema de temática espírita do Brasil e do Mundo..
No Brasil, só é superado em extensão pelo poema "O Viajante", de Leandro Campos Alves, que conta com 2022 estrofes e 10,875 versos.
O esquema de rimas em todas as estrofes é ABABACC.
Todo tipo de rima é encontrado (perfeitas, imperfeitas, ricas, raras e preciosas).
Alguns exemplos da composição e de suas rimas seguem nas estrofes abaixo:

Estrofe número 4

Compreendo claramente que ninguém
consegue aquilatar de forma exata
a dimensão do drama que mantém
o coração trancado em casamata
de íntimo suplício, mas convém
lembrar que a dor, a todos, nos maltrata;
não é fato restrito a pouca gente,
mas, ao contrário, é caso onipresente.

 

Estrofe número 21:

Mas, entre as distonias mais funestas
imperas, depressão, medonha e grave!
Em meio a teus tentáculos, atestas
amargos sofrimentos. Não há chave
que abra portas novas, nem há frestas
por onde a dor se escape e desagrave.
A depressão é noite das mais densas...
E a morte - só na morte! - é no que pensas...

Estrofe número 36:

De fato, como apontam catedráticos
no âmbito da física ou da química,
filósofos, doutores, matemáticos,
psiquiatras, suportados pela clínica,
em seus estudos sérios e pragmáticos,
após a morte, vive, a essência anímica!
Não falta mente ilustre que conclua
que a vida, após a morte, continua.

 

Estrofe número 61:

É que atração tenaz de ação magnética
por sobre a mente assaz materialista
(frequentemente fraca, inculta e cética)
exerce o corpo humano, esse avalista
da ótica do engodo. Então, na estética
que junge o Ser à carne, se despista
o Espírito que crê que alma é o nada;
por isso é que a seu corpo é tão ligada.

Estrofe número 82:

É como se, das páginas de Dante,
figuras consumidas na loucura,
esquálidas, de aspecto apavorante,
seguindo marcha trôpega e insegura,
sentissem o aguilhão que, doravante,
nas sombras da consciência, as enclausura
no repassar dramático da cena
final das pobres vidas, que as condena!

Estrofe número 117:

Assim, segue esquecida da família,
de amigos, de orações, a maioria
do grupo de internados que palmilha
a mesma trajetória de arredia
e lenta progressão na austera trilha
da urgente redenção, que se anuncia. 
A nossa sociedade, tão sisuda,
infelizmente, aos mortos, pouco ajuda.

Estrofe número 140:

A casa de socorro espiritista,
celeiro de energia curativa,
é o centro em que o espírito conquista,
aos poucos, o equilíbrio e se motiva
para renovação mais otimista
na digna residência da fé viva!
É justo, nesse caso, se hipoteque
respeito aos seguidores de Kardec.

Estrofe número 147:

Suicida, além da morte, se assemelha
a intruso, a clandestino porque o códice
de Deus, que ele infringiu, como centelha
de luz obscurecida, impõe seu óbice
ao réprobo entre os anjos e aconselha
a nova encarnação. É fato: pode-se,
na Terra, prosseguir melhor na cura,
se o Espírito se porta com bravura!

Estrofe número 173:

Priva ao materialismo a regalia
de te lançar no abismo das desditas.
E crê que a vida é menos do que um dia
se comparada às glórias infinitas.
Repara na figura luzidia
do sol, e tu, talvez, então, reflitas
que o renascer é sólido programa
de evolução que, a todos, nos conclama.

Estrofe número 15:

Às vezes é a doença que visita,
de sofrimentos rica e multiforme,
a trôpega criatura que se agita
no mundo. E com valor e angústia enorme
peleja contra o câncer, a maldita
surdez, cegueira, a peste que a deforme
até que, numa espécie de catarse,
desiste de tentar; não quer curar-se.

Estrofe número 34:

Quem dera essa criatura examinasse
as possibilidades intrigantes
de vida após a morte. Face a face
com evidências tão desconcertantes,
tão contundentes, certo é que hesitasse
nas intenções que tem. Detenha-se antes!
Se a vida, além da morte, segue intacta,
então matar o corpo, a dor não mata!

Estrofe número 49:

Porém se, ao desdenhar a dor da morte,
a droga sedativa, em seu apelo
por não sofrer, tomou, agora forte
afogo, escuridão e pesadelo
perseguem-no, talhando infausta sorte.
Seu drama, não se pode compreendê-lo:
é a alma solitária, insana e cega
no miserando inferno ao qual se entrega.

 

Estrofe número 77: 

São vales entre escarpas de lamentos,
de escuridão profunda e luz nenhuma.
Gelados corredores lamacentos
de podridão, tomados pela bruma.
Não há de paz, sequer breves momentos;
ninguém nem levemente se acostuma.
Nas vias, nas cavernas, labirintos,
espíritos têm sede e estão famintos.

Estrofe número 111:

Perante a equipe alegre e caridosa
que lhe dedica esforço, com desvelo,
o enfermo, envergonhado, jamais goza
de júbilo total. Quisera tê-lo!
Porém o opróbio, a culpa, são da rosa
de seus sonhos, espinho e pesadelo!
Naquele ambiente excelso não se encaixa,
perplexo e perturbado, a fronte baixa...

Estrofe número 136:

Tal fato não se dá quando decida
alguém interromper, abruptamente,
o ritmo do fluir normal da vida!
No caso em que, abusivo, então, violente
a ligação dos corpos, a incontida
ação provoca efeito contundente,
pois rompe-se o conduto, dir-se-ia,
enquanto está repleto de energia!

 

Estrofe número 141:

Assim, as vibrações descontroladas,
viciadas e enfermiças da criatura
trazida do invisível às paradas
terrenas, contrapostas com bravura
por médium bem treinado, são freadas.
Portanto, pouco a pouco, se depura
o espírito carente, pela via
do choque contra força mais sadia.

 

Estrofe número 161:

Querido amigo, ouviste até o momento,
na acústica da alma estas palavras.
De coração aberto te apresento
os fatos que, quem sabe, tu olvidavas,
trazidos do além-morte, do tormento
de quem lavrou o solo que hoje lavras.
Mas meu desejo é mais do que dizer-te
do pranto que o suicida sempre verte.

Estrofe número 182:

Então, na paz de Deus que podes já
viver, eu te convido a erguer comigo
ao Alto uma oração por quem está
sofrendo, do outro lado de um jazigo.
Quem sabe o que essa prece poderá
fazer por quem carece de um amigo.
Ergamos, juntos, vozes ao Sublime
Poder que cria o Amor por sobre o crime.

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