Notícias de além-túmulo
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José Gilberto Tristão de Almeida Filho
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ASPECTO DOUTRINÁRIO
Notícias de além-túmulo apresenta, na forma de um longo poema, a descrição fidedigna do que se passa na vida espiritual com aqueles que adentram as portas da morte pelo caminho do suicídio. Baseado em obras mediúnicas, procura trazer ao leitor informações precisas do que encontrará após a morte aquele que atentar contra a própria vida.
Fontes:
ALLAN KARDEC. O Livro dos espíritos.
ALLAN KARDEC. O Evangelho segundo o espiritismo.
DENISE CORRÊA MACEDO/ARNOLD NUMIERS. Leila, a filha de Charles. 1 ed. Capivari – SP. EME. 2018.
DIVALDO PEREIRA FRANCO/JOANA DE ANGELIS. Após a tempestade. 12 ed. LEAL. Salvador-BA. 2016.
LUIZ GONZAGA PINHEIRO. Suicídio. A falência da razão. 1 ed. Capivari - SP. EME, 2018.
RICHARD SIMONETTI. Suicídio. Tudo o que você precisa saber. 1 ed. Bauru-SP. CEAC editora, 2006.
YVONNE A. PEREIRA/CAMILO CÂNDIDO BOTELHO (CAMILO CASTELO BRANCO). Memórias de um suicida. Rio de Janeiro-RJ. FEB, 1982.
YVONNE A. PEREIRA/CHARLES. Amor e ódio. Rio de Janeiro-RJ. FEB.
YVONNE A. PEREIRA/CHARLES. Nas voragens do pecado. Rio de Janeiro-RJ. FEB.
YVONNE A. PEREIRA/CHARLES. O cavaleiro de Numiers. Rio de Janeiro-RJ. FEB.
YVONNE A. PEREIRA/CHARLES. O drama da Bretanha. Rio de Janeiro-RJ. FEB.
YVONNE A. PEREIRA/CHARLES/LEÃO TOLSTOI. Sublimação. Rio de Janeiro-RJ. FEB.
Aspecto doutrinário:
Notícias de além-túmulo é constituído de vinte e nove capítulos.
Ao longo desses capítulos o leitor é guiado por um caminho de conhecimento espírita a respeito da realidade vivida pelo suicida após o desencarne. A intenção é, ao mesmo tempo, mostrar ao leitor o panorama sombrio que o suicida enfrenta após a morte física e encorajá-lo a enfrentar os próprios desafios sem se aventurar por esse atalho de sofrimentos.
Alguns trechos da obra são destacados a seguir, para exemplificar como Notícias de além-túmulo trata, de forma poética, de assunto de tal gravidade.
Este trecho trata da reflexão sobre o estado do conhecimento humano no que diz respeito a existência da vida após a morte:
Há tempos se conhece a envergadura
das teses de cientistas de renome
que afirmam que, depois da sepultura,
a vida não se esvai nem se consome.
E nesse campo, aquele que procura,
malgrado o esforço e o tempo que lhe tome,
descobre realidade surpreendente
à luz da indagação que aflige a mente.
Neste outro, aborda-se o tormento por que passa o suicida, retrata-se a paisagem mental do suicida, materializada no plano espiritual da vida com o reviver contínuo do ato de dar fim aos próprios dias:
Se as asas do incontido desespero
levaram, no seu fúnebre e anormal
caminho, o ser humano ao derradeiro
suspiro, pela ponta de um punhal,
a dor aguda é apenas o primeiro
augúrio; é breve e insípido sinal
de alucinante estado de agonia,
de dor, de permanente hemorragia.
A narração segue apresentando as angustiantes e inenarráveis sensações do espírito imantado ao próprio corpo carnal enquanto este passa pelo processo natural de decomposição:
E enquanto se retorce em estertores
terríveis pelas dores que repassa,
descobre, por sinais aterradores,
a morte, que o corteja e que o abraça.
Percebe a multidão de roedores
e vermes que lhe abusam da carcaça.
Reflete-se no ser cada bocado
que ao corpo putrefato é retirado.
Este seguimento se ocupa de esclarecer como o vínculo mental que o Espírito estabelece com o corpo físico cria um laço que o impede de se desembaraçar das sensações de sua degradação:
O pensamento cria a cela estrita
em que aprisiona o Espírito imprudente.
Se se imagina o invólucro em que habita,
enlaça-se o indivíduo estreitamente
ao corpo perecível em que transita
na rápida existência do presente.
Na morte, é fácil, pois, manter o fulcro
nos restos que apodrecem no sepulcro.
O fragmento a seguir, trata do encontro do Espírito do suicida com as pessoas de seu antigo convívio. Ele não tem ainda a consciência nítida do próprio desencarne e sofre ainda mais, por não conseguir se comunicar com ninguém:
No antigo lar, a esposa desolada,
o filho, o pai, marido - pouco importa! -
ninguém o escuta! Fala, grita, brada,
mas não adianta. O mundo se comporta
de modo estranho e tudo (e mesmo nada!)
que faça lhe parece abrir a porta
ao breve entendimento com alguém.
Enfrenta a culminância do desdém!
Adiante, o livro navega pela realidade do chamado "Vale dos suicidas", para onde muitos daqueles que exterminaram a própria vida são atraídos por sintonia vibratória. A obra entra em minúcias a respeito da realidade que esses espíritos encontram, sempre apoiada no relato de "Camilo Cândido Botelho/Camilo Castelo Branco" em "Memórias de um Suicida", pela mediunidade de Yvonne A. Pereira:
São vales entre escarpas de lamentos,
de escuridão profunda e luz nenhuma.
Gelados corredores lamacentos
de podridão, tomados pela bruma.
Não há de paz, sequer breves momentos;
ninguém nem levemente se acostuma.
Nas vias, nas cavernas, labirintos,
espíritos têm sede e estão famintos.
O processo através do qual espíritos atrasados se valem da astúcia e da força para escravizar muitos dos que cometem suicídio, também é abordado:
Àqueles que o destino faz escravos
das hordas infernais da profundeza,
sabemos que os aguardam os agravos
da mais cruciante e ingrata natureza.
Rezemos, pois, a Deus, para que, bravos,
consigam resistir, mantendo acesa
a chama da esperança, na desdita
de tal tribulação, quase infinita!
Por outro lado, o resgate, realizado por espíritos socorristas, vem trazer alívio aos sofrimentos dos que permanecem no "Vale dos Suicidas". Essa passagem se ocupa desse resgate:
E excelsa comitiva resplandece
aos olhos marejados e felizes
do ser arrependido cuja prece
tingida pelos plácidos matizes
da dor, do sofrimento, ao que parece,
ouvida foi, no além, por bons juízes
que agora vêm buscá-lo, complacentes,
no vale aterrador dos delinquentes.
Em trecho posterior, são assinalados os cuidados recebidos nos Hospitais da Espiritualidade pelo espírito suicida que, finalmente, foi resgatado e agora recebe tratamento:
Por práticos e dignos enfermeiros,
então, o novo interno é recebido.
Tem banho, faz-se a higiene, seus primeiros
cuidados agradece, enternecido.
Depois, a cama limpa, travesseiros...
Tem alimento suave e enriquecido.
Porém, tudo percebe vagamente,
de tão debilitado que se sente.
Quanto mais recobra a consciência de si mesmo, mesmo sob cuidados fraternais, mais o suicida se sente culpado. A estrofe a seguir trata desse tema:
O espírito, portanto, aos poucos vai
ficando a par da exata natureza
da dívida que, frente a Lei do Pai,
nenhum ser encarnado que se preza
jamais deve supor que se contrai,
sem ônus de extremíssima grandeza!
Violou regulamento sacrossanto
e pesa sobre si a culpa e o pranto!
O papel das orações intercessoras e o mecanismo pelo qual beneficiam o suicida é lembrado:
Em tais equipamentos singulares
as preces se apresentam quais fulgentes
imagens de pessoas e lugares,
de espíritos queridos e parentes,
banhados em eflúvios salutares
que, emanam dos visores por correntes
de luz, que interpenetram cada interno
banhando todo o ser de amor fraterno.
Também é abordada a dor psíquica do suicida ao revisitar seu antigo reduto familiar e perceber as tristes consequências que seu ato impôs aos entes queridos que permaneceram no mundo material:
Não raro, no reduto mais sublime
de júbilos do céu em pleno lar,
depois do suicídio, a infâmia e o crime
usurpam, ante a dor, o seu lugar.
Se não, surge a escassez, novo regime
que, então, se impõe ao grupo familiar.
E aquele que causou tanta desdita
ao ver o mal que fez, chora e se agita.
Depois, quando consegue se fazer credor desse direito, o suicida é visitado por parentes e amigos que o antecederam na vida de além-túmulo. O excerto abaixo abrange esse assunto:
Recebe, então, o espírito, o regalo:
parentes, amizades, os queridos
afetos vêm, felizes, visitá-lo.
Acolhe as devoções entre sofridos
soluços de conforto. Encorajá-lo
é o principal motivo de incontidos
protestos de ternura e de afeição
que envolvem seu saudoso coração.
Esclarece-se, posteriormente, o efeito, como consequência do suicídio, da ruptura prematura do cordão fluídico que liga os corpos físico e espiritual.
É amarra brutalmente esfacelada
pelo ato do suicida, que rompeu
a ligação ainda energizada
do corpo astral - do espírito! - com seu
reflexo material, que se degrada.
E quando tais correntes, no apogeu
da vida, são rompidas, a ruptura
provoca anomalia prematura.
O papel do tratamento do suicida nas casas espíritas, através do trabalho mediúnico também é destacado::
Assim, as vibrações descontroladas,
viciadas e enfermiças da criatura
trazida do invisível às paradas
terrenas, contrapostas com bravura
por médium bem treinado, são freadas.
Portanto, pouco a pouco, se depura
o espírito carente, pela via
do choque contra força mais sadia.
Apesar de todo o benefício da terapia no plano espiritual, ela não é suficiente para que o suicida se harmonize novamente com a Lei Divina. É Necessário que prossiga seu tratamento, por via da reencarnação. Note-se o trecho abaixo:
Portanto é imperativo se conduza,
tão logo o pobre enfermo esteja pronto,
de novo à situação de alma reclusa
no corpo material, a novo encontro
com vibração mais densa que o induza
a recompor-se além daquele ponto
em que o socorro em plagas siderais
já não pode ajudá-lo muito mais.
Muita vez, a desestruturação do perispírito do suicida é tamanha, que ele não consegue renascer na carne nas primeiras tentativas. Mas mesmo os esforços de renascimento frustrados pelo abortamento espontâneo têm efeito terapêutico para o suicida:
Espíritos existem que não têm
nenhuma condição de sobrevida.
Da fábrica uterina, eles, porém,
precisam, na específica medida
das possibilidades que detêm.
Na extrema providência requerida,
o espírito, entre a dor e o desconforto,
às vezes só progride pelo aborto.
A violação da lei da vida, imporá ao suicida novas experiências educativas que, eventualmente., lhe exigirão séculos de encarnações sucessivas e sofridas. Extraímos a seguinte estrofe a respeito desse assunto:
De angústia indefinível, de aflitiva
tristeza, de constante inquietação,
do pensamento ansioso não se esquiva
o espírito suicida, quando ao chão
da Terra desce em nova e educativa
etapa, no buril da encarnação.
Terá, talvez, as mais ferrenhas provas
em séculos de dores, sempre novas.
Cabe à ação na caridade a virtude de aliviar as dores e fazer crescer espiritualmente aquele que se entrega a pensamentos suicidas. Veja os versos a seguir:
E é aí que se produz, portanto, a cura
da alma sofredora e entristecida.
Se o nosso próprio orgulho é que conjura,
mãos dadas ao egoísmo, a dor da vida,
então, procure sempre a criatura
as flores da humildade e da assumida
vontade de servir com santa calma,
que o ato de servir depura a alma!
Combater o pensamento materialista de que a vida se encerra com a morte do corpo físico é antídoto necessário contra o suicídio. O autor se manifesta assim:
Crê, sim, que este é o remédio mais seguro
que tens contra a tragédia do suicídio:
- saber (e crer!) que tens, pelo futuro,
a eternidade. O mundo onde reside o
espírito imortal é ameno e puro
descanso, quando escapa do presídio
do corpo pelos meios naturais,
se cultivou, na carne, o amor e a paz!
O poema se encerra com a versificação da prece pelos suicidas, contida no Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo XXVIII, "Coletânea de Preces Espíritas", item 71. Segue um trecho:
Sabemos, ó meu Deus, qual sorte espera
aqueles que põem termo aos próprios dias;
porém, também sabemos que se opera,
por meio desse Amor com que nos guias,
o bem imarcescível! Pai, sincera
e humilde comoção nos contagia.
Pedimos Teu amor para as sofridas
e desditosas almas dos suicidas.
A obra abrange ainda muitos outros detalhes sobre o que acontece na vida além da sepultura, conta com apelos e palavras de consolação. Acima procuramos apenas trazer uma noção introdutória a respeito de como o poema evolui pela temática do suicídio de acordo com a ótica Espirita.